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domingo, 24 de abril de 2011

A SEGUNDA

   O segredo que guardaste por tanto tempo, tornou-se um ornamento pétreo enfeitando a praça solitária do teu coração.
   Com as lágrimas derramadas geraste uma fonte que alimenta o córrego ao lado.
   As árvores secas e os bancos velhos e alquebrados marcam o tempo que passou.
   Mas, tu não envelheceste mesmo após tê-lo deixado. Apenas permitiste morrer por dentro, pelo cumprimento fiel à promessa mantida por um silêncio por aquele que nunca te mereceu.

domingo, 10 de abril de 2011

DANCE EM CIMA DOS CACOS

A agonia de quem cria e deseja criar atinge qualquer artista. O escultor que não consegue dar a forma sonhada à sua obra, o compositor que se perde em partituras inadequadas, o pintor cuja a mistura de tintas não lhe agrada  e principalmente o escritor que luta, briga e esperneia com suas idéias até surgir a bem aventurança de uma frase alcançada.
Jornalista talentosa sofrendo deste mal, inquiriu-me para desvendar o mistério de querer escrever um livro, mas se encontrar perdida num caminho desconhecido sem rumo. Finalmente proclama estar muito bem, amando e sendo amada.
Bom acho que aí mora o perigo. Não que o amor impeça de criar. Temos inúmeros poemas de gente apaixonada, livros infinitos de amores eternos, etc. Entretanto, acho que a boa literatura exige algo mais, um dar-se infinito e sem reserva, uma explosão interior onde a alma escancarada revele sua completa nudez. Fiz-lhe então a seguinte orientação para se tentar chegar a tanto:
   Você está em uma praia deserta banhando-se um pouco distante. De repente vem uma onda não tão grande como um tsunami, mas violenta o bastante para deixá-la aturdida, obnubilada, sem reações motoras, fora da realidade mesmo. O amor é assim deixa-nos neste estado.
   Dizem que ele é cego, mas não é não. É muito poderoso e ofusca todos os outros sentimentos. Quando se vai, deixa aparecer aqueles que sentadinhos em seus cantos acenando com suas mãozinhas, dão-lhe as boa vindas: a frustração, o sofrimento, a solidão, a mágoa, todos presentes.
   Se você quer realmente escrever, mergulhe dentro de si. Enfie as unhas nas feridas adormecidas deixando-as sangrarem e ao olhar para o chão repleto de cacos de sonhos perdidos e partidos, mesmo chorando e sangrando dance em cima deles.